O que você procura?

segunda-feira, 5 de abril de 2010

O maldito All Star

Sabe o que mais me irritou? Nem eu sei.

Estava frio, eu tinha gripe, havia brigado com a minha mãe e estava sem a menor paciência para me arrumar.

Cheguei atrasada, com a roupa surrada, o maldito all star nos pés, papel e caneta em mãos. Eu era a fã.

Quantos sorrisos eles distribuíram naquele dia? Quantas fotos, quantos autógrafos? Mesmo assim, o meu parecia especial. No fundo, eu sabia que aquele seria um dia especial, não às quatro da tarde, quando cheguei, mas às oito da noite, quando o show começou.

A partir daquele momento eu soube que qualquer loucura valeria a pena e mentir, enrolar, aprontar, foram apenas consequências dessa coisa louca que se passa em minha cabeça, mas que eu não saberia explicar nem em um milhão de anos.

Olhar em volta foi um exercício complicado. Enquanto, de um lado, adolescentes suados e descabelados pulavam e gritavam descontroladamente, do outro, garotas de saia e salto alto esperavam pelo momento em que um deles as olharia de cima do palco e decidiria que ela seria a escolhida. Esse momento, no entanto, não existiu.

A saída foi rápida, sem muito tumulto. Um bilhete mal escrito que não surtiria efeito, uma hora de espera sentada em frente ao McDonald's e o maldito All Star que se somava à sensação de desgosto por ter colocado aquela blusa que remete à música de trabalho deles. A maior breguice do milênio.

Descer ruas escuras acompanhada de apenas uma pessoa não era meu esporte favorito, mas eu aprenderia que sem esforço não há recompensas e nem sempre o caminho mais claro é o mais seguro, nem sempre o caminho mais seguro é o mais legal. Segurança não me levaria onde eu queria chegar naquele momento, então eu aproveitei para ensaiar algumas coisas que eu gostaria de dizer, enquanto fingia prestar atenção na conversa.

E foi assim, meio distraída, meio desacreditada, que eu conheci uma das pessoas mais importantes da minha vida. Eu, que não tenho talento para isso, que não tenho experiência, que vestia uma porra de um All Star que não combinava em nada com a merda da minha roupa.

Acordei ainda anestesiada, parei um pouco só para ouvir a batida de um coração estranho. O dia amanheceu quente e minha roupa de frio não fazia mais sentido. Senti vergonha, não quis fazer barulho. Saí como se eu não tivesse existido, não sei se fiz certo. Eu deveria ter comprado um café? Eu sei seu sabor favorito, mas ainda assim... eu precisava voltar para casa, para a vida real.

Olhei para o tênis, a língua que antes eu reconhecia como símbolo dos Rolling Stones agora me chamava de boba, otária. E eu só pude sorrir porque, é, no fundo eu sei que sou. Perdi uma parte irrecuperável e ganhei lembranças impagáveis naquele dia.

Entre saltos, saias, decotes e meias rasgadas, o maldito All Star venceu.

2 comentários:

Related Posts with Thumbnails